APEP - O FAMINTO DEUS SERPENTE DO SUBMUNDO


As passagens do rio escuro, sob o mundo, são o lar do principal deus antigo egípcio do Caos, a grande serpente Apep (também conhecida como Apepe, Apopis ou Apophis).

De acordo com o mito, o deus do sol, Rá, carregava o sol através dos céus em um barco místico solar todos os dias. Então, todas as noites Rá voltava de oeste a leste através de um caminho de rio invisível através do submundo. Quando a noite cobria o mundo e o deus do sol lutava para retornar ao ponto mais distante do leste a tempo do nascer do sol, a grande serpente apareceria das águas escuras para atacar o barco.

O deus do sol Rá, na forma do 'Grande Gato', mata a cobra Apep



Apep tentaria com todas as suas forças para devorar o sol da maneira como uma serpente come um ovo. Alguns mitos sustentam que Apep era o deus do sol antes de Rá e queria que o sol voltasse para a amargura dinástica. Em outras fontes, o grande demônio não é imputado com uma história anterior e é apenas uma cobra enorme que quer comer o sol. Fontes concordam que Apep não foi tão adorado quanto "contra-adorado". Muitas orações e liturgias do antigo Egito são encantamentos mágicos para ajudar os deuses a evitar ataques da enorme cobra venenosa.

Rá foi ajudado a combater o ataque noturno por uma figura improvável, o poderoso deus Set - um maníaco fratricida com a cabeça de um animal desconhecido (que é o deus do Mal e do deserto). Quaisquer que sejam as outras falhas de Set, a falta de vigilância contra as serpentes de caos gigantes não estava entre elas. Em várias passagens da literatura antiga, Set é ouvido por se gabar de sua proeza e bravura para garantir que o sol passasse pela serpente para se erguer a tempo. Os espíritos dos devotos que passaram para a próxima vida também poderiam ajudar ao remar o belo barco. No mito egípcio recente, a deusa de batalha, Bastet, também ajudaria Rá e Set a lutar contra o demônio.

Set espetando Apep e, atrás dele, o deus egípcio do sol Rá

Estatueta da deusa egípcia Bastet. Bastet é uma divindade solar e deusa da fertilidade, de aparência felina, além de protetora das mulheres grávidas. Também tinha o poder sobre os eclipses solares. Quando os gregos chegaram no Egito, eles associaram Bastet com Ártemis, embora Ártemis esteja eminentemente relacionada à lua, enquanto Bastet inegavelmente estava relacionada aos mitos solares. (Info: Wikipedia)

Claro que, apesar das melhores intenções dos deuses, Apep ocasionalmente conseguia a vantagem e fugia temporariamente com o sol. Tais dias (raros) foram marcados pela tempestade e pelos céus nublados. Além disso, a astuta serpente demônio às vezes deixava o submundo e tentava devorar o sol enquanto ele se dirigia através do céu. De acordo com a superstição egípcia, esses ataques ocasionais durante o dia eram responsáveis ​​por eclipses solares. Felizmente, Rá e os outros protetores do sol sempre podem confiar em um reservatório de energia espiritual para expulsar a cobra (ajudar os deuses a derrotar Apep foi um dos propósitos de adoração no antigo Egito). Por causa do poder da oração, Apep, a terrível serpente demoníaca do submundo, nunca conseguiu devorar o sol.

Imagem do "Barco do Sol" com Rá (também chamado de "O barco de um milhão de anos" ou a "barca de idades") representado por uma coroa de chifres de carneiros cercando o disco solar contra Apep, acompanhado por dois de seus adoradores.



O 'sol alado' era um antigo símbolo (3º milênio a.c.) de Hórus, mais tarde identificado com Rá. 








Encyclopedia of African Religion - Volume 1 (Enciclopédia da Religião Africana - Volume 1): "Apep era o deus da dissolução, da destruição e da não-existência. Nada poderia escapar da atenção de Apep quando ele queria avançar uma posição adversa. Na verdade, no antigo Egito, Apep foi o principal adversário de Rá, procurando destruir Rá, levá-lo a não ser, e criar estragos na sociedade. Ele engolia os inimigos e causou a inexistência completa; porque ninguém queria ser inexistente, Apep era especialmente temido. Os antigos egípcios acreditavam que Apep enão tinha  características naturais; na verdade, ele estava fora do mundo natural e, portanto, não podia ser encarado como as deidades ou seres humanos. Como um ser que não precisava de nada do mundo natural, nem sustento nem companheirismo, Apep estava totalmente desprovido de qualquer respeito pelos seres humanos".


Acima, 'Atum' e a serpente Apophis. Atum é um *neter egípcio, adorado em Heliópolis. É o resultado da transformação de **"Nun" ('Nu', o ser subjetivo) no ser objetivo. Aparece desde cedo como deus primordial e criador pois deu origem a uma explosão que gerou os demais corpos celestes do universo, mas sendo um evento pré-planejado. Este cria o sol da tarde e quando "torna-se a si mesmo", toma forma de Rá, que inicia os "neteru" (ler a respeito abaixo sobre 'neter') geradores e gera o sol da manhã. Atum foi o criador do céu e da terra separando-os. Mas no momento que "torna-se a si mesmo", une-se a Rá, e se transforma em único ser, que seria chamado de Atum-Rá. Não tendo parceiro, o deus primevo realizou o primeiro ato de criação sem relação sexual: "Atum se masturbou em Heliópolis, e então nasceram os gêmeos Shu e Téfnis".



Neter é uma palavra em egípcio sem tradução exata. A antiga religião egípcia, diferente do que muitos pensam, cultua apenas um único deus. Sendo este supremo, eterno, imortal, onisciente, onipresente e onipotente. Mas este deus aparece de várias formas e aspectos, os Neteru (plural de Neter no masculino e Netert no feminino). Um exemplo para compreender melhor isso é a água, que sendo líquida, sólida ou gasosa continua sendo água. Dessa forma os Neteru tem sua própria personalidade, ações e são cultuados. (Wikipedia)



**  Na cosmogonia de Hermópolis, Nun e sua contraparte feminina Naunet representavam a Água Primordial e, juntos com outros seis deuses, formavam a "Ogdóade" (ver abaixo). Nun (também conhecido como Nu ou Ny) é o neter que representa o líquido cósmico que deu origem ao universo. Nun é pertencente a classe: Neteru Primórdio (ou primordial). É o ser subjetivo, quando se transforma no ser objetivo, torna-se Atum. Seu nome significa Abismo. Nut (também conhecida por Nuit) também é o nome da deusa do céu da ***Enéade de Heliópolis.


Acima, a representação do "Ogdóade" com cabeças de serpente e sapo (relevo da era romana no templo de Hathor em Dendera). Esta associação reunia quatro divindades masculinas e quatro divindades femininas. Os dois se apresentavam como pares: "Nun e Naunet", "Huh e Hauet", "Kuk e Kauket" e, finalmente, "Amon e Amaunet". O último casal é um pouco diferente, podendo ser substituído por "Tenemu e Tenemuit", "Niau e Niaut" ou "Gereh e Gerhet". Note-se que o nome das deusas era apenas a versão feminina do nome do deus. "Nun" significa água, 'Huh", o espaço infinito, "Kuk", trevas e 'Amon", o oculto ou o ar. A partir destes quatro elementos primordiais tudo teria se originado. "E. Wallis Budge" (1904) compara o conceito da Ogdóade a um grupo de quatro pares de deuses primitivos mencionados no épico babilônico "Enuma Elish", sendo estes: "Absu e Tiamat", "Lahmu e Lahamu", "Anshar e Kishar", "Anu e Nudimmud". E. Wallis Budge foi um arqueólogo britânico que realizou escavações no Egito, Sudão e Mesopotâmia; durante 27 anos, dirigiu o departamento de antiguidades asiáticas e egípcias do Museu Britânico.


Relevo egípcio representando Naunet (esquerda) e Nun (direita)



*** Enéade (palavra de origem grega, e em egípcio usa-se a palavra 'Pesedjete'era na mitologia egípcia um agrupamento de nove divindades, geralmente ligadas entre si por laços familiares. De acordo com o mito elaborado pelos sacerdotes da cidade, no princípio existia apenas as águas de Nun, das quais emergiu a colina primordial. Nesta colina encontrava-se um deus que se tinha gerado a si próprio, Atum. Através do sémen produzido pelo ato de masturbação do deus, nasceram outras divindades: Chu (ou Shu, o ar) e Téfnis (a umidade). Esta casal procriara e dele surgem Geb (a terra) e Nut (o céu). Estes últimos geram quatro filhos: Osíris, Ísis, Set e Néftis. Completando, assim, os nove principais deuses da mitologia egípcia. (Wikipedia) 


                                                                              
                                                                             Imagem do "Barco do Sol" de Rá (também chamado de "O barco de um milhão de anos" ou a "barca de eras"), cercada pela figura gigante da deusa Nut, "Aquela que protege". Rá é representado na frente do barco solar, coroado pelo disco solar na companhia de deuses que aparecem no mito da criação, na seguinte ordem: Geb, Isis, Néftis, Nut (aqui, representada duas vezes, em forma de céu (subjetiva) e em forma 'objetiva', ou humana), Osíris, Set, Shu and Téfnis.



Tradução livre por: Éric Tormentvm Aeternvm XVI/XIII


Fonte: https://ferrebeekeeper.wordpress.com/2012/05/14/apep-hungry-serpent-god-of-the-underworld/


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