O ENXOFRE
Houve um tempo em que o enxofre era elemento de pouca
serventia. Seu consumo limitava-se unicamente aos demônios, gênios e outros
seres sobrenaturais, que o usavam para produzir a fumaça que sempre precedia
suas aparições. Hoje em dia, porém, as coisas estão mudadas e o enxofre (que os
latinos chamam de sulphur) é consumido em grandes quantidades, não
mais com o objetivo de criar clima dramático e sim com fins muito práticos. Na
lavoura, como adubo. Na indústria, como componente de inúmeros produtos. E na
medicina, com uma infinidade de aplicações.
O enxofre é um não-metal, isto é,
um elemento que não tem característica de metal. Dessa forma, conduz mal tanto
a eletricidade como o calor. Para fundi-lo, é necessária uma temperatura de
112,8ºC. Seu número atômico é 16 e, nas equações químicas, ele aparece
designado pelo símbolo “S” – de sulphur,
em latim. A massa específica do enxofre é 2,07 g por centímetro cúbico. Sua
massa atômica é 32,066.
Enxofre em seu estado puro |
A
original teoria de mestre Geber
Retrato europeu do século XV de Jabir ibn Hayvan, ou "Geber", tirado do "Códice Ashburnham Ani", de 1166. Biblioteca "Medicea Laurenziana", em Florença. Geber é considerado o "Pai da Química". |
Ao que parece, o primeiro
indivíduo a identificar e utilizar o enxofre foi o alquimista árabe chamado
Jabir ibn Hayvan (conhecido por Geber), que viveu por volta do ano 776 da era
cristã. A propósito da substância, ele desenvolveu uma curiosa teoria, segundo
a qual todos os metais se compunham basicamente de mercúrio e enxofre em
diferentes proporções.
A combinação entre eles ocorria
por meio de espantosos processos, desenrolados no centro da Terra. Se o mercúrio
fosse muito puro e o enxofre muito limpo, o produto resultante seria ouro ou
prata. E, conforme o grau de impureza de um e de outro, a combinação resultaria
em outros metais. De acordo com Geber, modificando as proporções dos
componentes e “limpando’ o enxofre, seria possível converter qualquer metal em
ouro e prata. Não é preciso dizer que ninguém chegou a realizar a façanha. Bem
mais tarde, na Idade Média, o enxofre passou a ser usado como remédio e, a
partir do século XIV, ganhou uma nova função: misturado com carvão e salitre,
deu origem à pólvora.
Na
cebola, nas pessoas e em crateras de vulcão
O enxofre em seu estado livre é
retirado de depósitos subterrâneos de rochas sedimentares. Provém da
transformação de grandes camadas de sulfato de cálcio (em latim, gypsium), depositadas pelo mar ao longo
de milênios. Mas nas fendas de lava solidificada nas encostas dos vulcões e
dentro das próprias crateras também costumam existir depósitos de enxofre em
estado relativamente puro. A maior parte da produção mundial, entretanto,
provém de depósitos sedimentares localizados no Texas e na Luisiana, nos
Estados Unidos, e em Vera Cruz, no México. Ali, o minério se apresenta
impregnando diversos tipos de calcários porosos. Já na Sicília, onde os
depósitos são de origem vulcânica, o sulfato de cálcio aparece associado ao
enxofre.
O enxofre também aparece em
certas regiões onde existem fontes cujas águas são acentuadamente sulfurosas.
Até nas criaturas vivas o enxofre se apresenta, fazendo parte do tecido e da
estrutura do homem, de diversos animais e ainda de vegetais como a cebola, o
alho e a mostarda.
O
forno Gill
Método siciliano de extração de enxofre |
Os romanos, que usavam o enxofre
para fumigações e limpeza de tecidos, foram os primeiros a criar um método para
a sua obtenção: distribuíam o material em pilhas cônicas, cobriam-nas com terra
e depois ateavam fogo. Com o calor, o enxofre fundia-se e escorria, sendo
recolhido embaixo. Mas, como o enxofre é muito inflamável, perdia-se um terço.
O forno Gill, concebido em 1880, baseia-se no mesmo princípio. Nele, o calor da
combustão do minério queimado num compartimento se comunica ao minério contido
noutro ao lado, de modo a fundir o enxofre.
O
método Frasch
Quando o
enxofre está a grande profundidade, sob camadas de areia, lodo e arenito
impregnado de gás ou petróleo, adota-se um método que foi criado em 1891 pelo
engenheiro Herman Frasch e que é muito parecido com o processo de extração de
petróleo.
Primeiro, faz-se um poço de
penetração, onde é introduzido um tubo de grande diâmetro, em cujo interior vão
dois outros, concêntricos. Quando esse conjunto de tubos alcança a jazida,
injeta-se água aquecida a 180ºC, sob pressão, pelo tubo maior. Nesta
temperatura, e submetida a pressão de 10 atmosferas ou mais, a água permanece
líquida. Escapando através de diversos orifícios, essa água quente faz fundir o
enxofre em volta. Este, ainda líquido, é trazido à superfície através do tubo
intermediário e graças à pressão de um jato de ar quente.
No Brasil, ainda não se conhecem
jazidas importantes de enxofre: sua produção restringe-se ao aproveitamento dos
gases residuais das refinarias de petróleo e "hulha" (um tipo de carvão mineral que contém betume, uma mistura líquida de alta viscosidade, cor escura e é facilmente inflamável). Mas no futuro poderá ser
produzido em grande quantidade, pois nas jazidas de *pirita – bastante
abundantes – o teor do enxofre é muito elevado.
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